O financiamento advindo de doações da própria sociedade não é ainda uma das principais formas de sustentabilidade do campo das Organizações da Sociedade Civil (OSCs), majoritariamente promovido por recursos públicos, privados e da cooperação internacional, estes últimos destinados por instituições internacionais que financiam agendas dos direitos humanos e a atuação de organizações brasileiras ligadas às mesmas.
Dar novos rumos a esse cenário é fundamental, principalmente quando o assunto é o fortalecimento das OSCs. Conhecer o perfil e o comportamento dos doadores é, portanto, ponto de partida fundamental para que esse campo possa traçar as melhores estratégias de mobilização de recursos para desenvolver sua atuação com autonomia, promovendo transformação social e, consequentemente, o fortalecimento da democracia brasileira.
Pensando nisso, Conectas e Fundação Getulio Vargas (FGV) estão desenvolvendo uma pesquisa sobre o perfil do doador brasileiro de classe média. O projeto foi contemplado pelo edital Fundo BIS – primeiro fundo brasileiro destinado exclusivamente para ampliar a cultura, o volume e a qualidade das doações no país.
A percepção da existência de uma lacuna de informações a respeito de um tipo de potencial doador, o brasileiro com alta faixa salarial, foi o disparador para a ação. Pesquisas existentes sobre o assunto traçam esse panorama a respeito dos pequenos ou grandes doadores, mas não contemplam esse grupo que pode ser ativado e mobilizado para doar mais.
Para Juana Kweitel, diretora executiva da Conectas, a pesquisa ajudará ainda a comprovar ou não algumas hipóteses acerca do campo de atuação em defesa de direitos, um dos recortes do estudo. A primeira é a de que os brasileiros não querem doar para esse segmento em razão de um discurso criminalizatório presente na sociedade, o de que “defender direitos humanos é defender bandidos”. A segunda é a de as pessoas preferem doar para causas de assistência direta e não para organizações que atuam por meio de estratégias de incidência política.