Photo by Daniel RAMALHO / AFP
Caravanas de todas as regiões do Brasil chegam a Brasília nesta terça-feira (25) para a 2ª Marcha das Mulheres Negras, que deve ocupar a Esplanada dos Ministérios com cerca de 300 mil participantes. A mobilização, articulada pelo Comitê Nacional da Marcha, reivindica políticas de reparação e o direito ao bem viver, reunindo mulheres negras de diferentes territórios, idades e trajetórias.
A Conectas acompanha as atividades em Brasília ao longo da Semana por Reparação e Bem Viver, somando-se ao esforço coletivo de fortalecer os movimentos de mulheres negras, ampliar vozes e apoiar agendas urgentes de justiça racial.
Dez anos depois da primeira marcha — realizada em 2015, quando mais de 100 mil mulheres negras caminharam pela capital federal — a edição de 2025 busca recolocar no centro do debate público temas como mobilidade social, desigualdades estruturais, segurança, renda e o enfrentamento às violências que atingem desproporcionalmente mulheres negras.
A realização da marcha em novembro também dialoga com o Mês da Consciência Negra, período marcado por atos, debates e atividades em todo o país.
A programação começa às 9h, com concentração no Museu da República. Grupos culturais, rodas de capoeira e um cortejo de berimbaus marcam a abertura dos trabalhos. No mesmo horário, o Congresso Nacional promove uma sessão solene alusiva à marcha.
Por volta das 11h, as caravanas iniciam o percurso pela Esplanada. Um jingle especialmente criado para o evento convida as mulheres a seguirem juntas: “Mete marcha negona rumo ao infinito. Bote a base, solte o grito!”
Durante a tarde, a partir das 16h, artistas negras de diversas regiões se apresentam em um grande encontro musical dedicado à arte e à resistência. Sobem ao palco Larissa Luz, Luanna Hansen, Ebony, Prethaís, Célia Sampaio e Núbia.
A marcha deste ano também aprofunda os laços com mulheres negras de outros países. Lideranças do Equador e de comunidades da diáspora africana participam da mobilização para fortalecer pautas conjuntas e dar visibilidade às lutas de mulheres afrolatinas, afrocaribenhas e africanas.
Ines Morales Lastra, da Confederação Comarca Afro-equatoriana do Norte de Esmeraldas, explica que a presença do grupo reafirma a continuidade das vozes ancestrais: “Marchamos para que nossas demandas ressoem, porque falamos também por nossas avós”.
A potência da marcha também se conecta ao legado de Lélia Gonzalez, referência central do feminismo negro no Brasil e nas Américas. Sua neta, Melina de Lima, participa da mobilização após receber, em nome da antropóloga, o título de Doutora Honoris Causa da Universidade de Brasília. Conceitos elaborados por Lélia, como amefricanidade e pretuguês, seguem orientando debates sobre raça, gênero e identidade no país.