Mais de cem organizações assinam carta em que apelam aos poderes da República para que fiscalizem e punam atos de improbidade administrativa. A motivação do pedido veio pela falta de transparência do governo federal na divulgação de dados referentes a pandemia de Covid-19.
De acordo com o texto, o portal oficial em que eram divulgados os dados sobre o coronavírus no Brasil, ficou fora do ar entre 05 e 06 de junho. No endereço eletrônico, um novo portal foi implementado, sem informar o número acumulado de casos e mortes, nem as taxas de contaminação e óbitos por 100 mil habitantes e de letalidade.
A medida adotada pelo governo do presidente Jair Bolsonaro também tirou do repositório do SUS (Sistema Único de Saúde) os dados com o histórico da Covid-19 no Brasil. E o Ministério da Saúde anunciou que fará uma recontagem no número de mortes, acusando secretarias de estado de falsificação de dados. Ainda que o ministério não tenha provado.
Na carta, as organizações destacam que a eliminação de um portal de informações oficiais deve ser vista com preocupação pois “os mecanismos de transparência são fundamentais em um governo democrático para permitir a participação pública e a prestação de contas. Durante uma pandemia, a opacidade pode custar vidas.”
Sobre a postura do governo federal com relação aos dados da Covid-19, as organizações repudiam o que entendem por abuso de autoridade, na tentativa de obstruir o direito à informação.
As entidades unidas na carta pedem a proteção do país em apelo ao defender a transparência. Segundo as organizações, a tentativa do governo federal de controlar a narrativa da pandemia não vai custar apenas a democracia, mas também a vida de milhares de pessoas, principalmente as mais vulneráveis.
Carta Aberta ao governo federal: A Opacidade Custa Vidas
Da noite do dia 05 até 06 de junho de 2020, o portal oficial de dados sobre a Covid-19 no Brasil ficou fora do ar. O novo portal não divulga dados de fundamental importância para o correto controle da pandemia, como o número acumulado de casos e mortes e também deixa de divulgar as taxas de contaminação e óbitos por 100 mil habitantes e de letalidade. A impossibilidade de se realizar o download da base oficial, o que permitiria um melhor compartilhamento e uso dessas informações, também é um grave empecilho ao direito à informação pública.
Também foram adotadas medidas retroativas para prejudicar o acesso à informação. As bases de dados com o histórico da Covid-19 no Brasil desapareceram do repositório do SUS (Sistema Único de Saúde). Além disso, o Ministério da Saúde anunciou uma recontagem do número de mortos, acusando as secretarias de estado de falsificar dados, mas sem apresentar nenhuma prova.
A eliminação de um portal de informações oficiais deve ser vista com preocupação. Os mecanismos de transparência são fundamentais em um governo democrático para permitir a participação pública e a prestação de contas. Durante uma pandemia, a opacidade pode custar vidas.
O caso se mostra ainda mais grave quando o presidente Jair Bolsonaro atribui algumas das mudanças a um desejo de prejudicar a cobertura jornalística da pandemia, quando, ao ser interrogado por repórteres sobre o atraso na publicação dos números, respondeu: “acabou matéria para o Jornal Nacional”. O uso da máquina pública para atacar a imprensa não é algo novo no governo de Jair Bolsonaro.
A falta de informação oficial sobre a pandemia não é apenas um ataque ao acesso à informação, ataca também a liberdade de expressão e de imprensa. Não se trata de casos isolados, mas que se inserem em um cenário do uso contínuo e sistemático da máquina pública para dificultar o trabalho de comunicadores, criar um ambiente hostil para o exercício profissional e, ao mesmo tempo, reduzir a transparência no governo de Jair Bolsonaro. Além disso, o direito de saber de toda população brasileira é violado — algo ainda mais grave diante da emergência de saúde pública.
A tentativa do governo federal de controlar a narrativa da pandemia por meio da opacidade e do compartilhamento de informações sem provas científicas ou baseadas na realidade não custa apenas a democracia, mas também a vida de milhares de pessoas, principalmente as mais vulneráveis.
As organizações listadas abaixo repudiam o abuso de autoridade por parte das altas esferas do governo federal brasileiro e condenam a tentativa de obstruir o direito à informação e a atividade jornalística, ocultando informações de interesse público. Apelamos aos demais poderes da República para que fiscalizem e punam eventuais atos de improbidade administrativa com o máximo rigor. O momento exige união de esforços para proteger o país e a população, defender a transparência, a liberdade e a democracia.